sábado, 19 de abril de 2008

"não há nada em Beja"

Frase feita (ainda que adaptada), um verdadeiro cliché ora usado com o intuito de diminuir ou mesmo denegrir toda a actividade da cidade e claro, usando sempre o mesmo “bode expiatório” ora por pura ignorância e não ter mais assunto em que falar.

Pois bem, sugestionado por uma amiga, deixo aqui um pequeno exemplo na área cultural que atesta o nível de veracidade do referido cliché.

Na passada 5ª feira, fui até à Casa da Cultura assistir a um concerto inserido nas “Sessões Off” (que normalmente acontecem na ultima 5ª feira do mês), qual não é o meu espanto quando à hora do espectáculo estavam cerca de vinte pessoas, por momentos pensei que seria um daqueles concertos promovidos pela Radio Comercial, “o concerto mais pequeno do mundo”, mas não, era mesmo promovido pela autarquia da cidade.

MAZGANI, é este o nome do moço que brindou aquele publico, em numero bastante reduzido mas com entusiasmo de sobra, com uma hora de musica, extremamente bem tocada e arrepiantemente cantada, uma das mais promissoras vozes do panorama musical nacional e internacional, pelos menos assim o dizem as criticas da especialidade.

Ah! e hoje há teatro no Pax Júlia, “
O Valentão do Mundo Ocidental, de John Millington Synge“ trazida até nós pelo CENDREV.

Posto isto, na minha modesta opinião a oferta cultural está ai e de boa saúde, resta saber se nós a merecemos???

10 comentários:

H disse...

@mazdak - compreendo a sua perspectiva! Mas, pergunto: não faltará qualquer coisa, para que apenas 20 pessoas tenham ido assistir?

Mazdak disse...

Falta sim, sr. H.
A nossa falta de interesse, por tudo aquilo o que não é, a roupa da moda, o carro da moda, o bar da moda...

H disse...

@mazdak - sabe bem que discordo! Tem razão nas suas premissas, mas... era desejável melhor divulgaçao, vocacionar a oferta para o "mercado" e... sabe bem o que penso da Casa da Cultura: não oferece as menores condições pra ser utilizada como sala de espectáculos!

Mazdak disse...

“vocacionar a oferta para o "mercado"”, parece-me bem,
mas não trará, apenas resultados efémeros, tipo...chiclet, mastiga e deita fora?
mas não será, contribuir a par dos mídia, para uma educação patológica e limitativa ao nível intelectual das gerações vindouras, aquelas que serão o futuro do pais?
mas não será, impor a toda a população mais do mesmo, parece que com o intuito de fazer de nós, meros robôs depressivos sob o comando do poder instituído e dependentes dos antidepressivos?
mas não será, deixar de fora as pessoas que, e bem na minha opinião têm outro tipo de gosto que não o generalizado, digamos que quase decretado?
....

Na minha modesta opinião, no lugar de “vocacionar a oferta”, há que possibilitar ao mercado uma “auto-educação”, ou seja, dar-lhe possibilidade de escolha e talvez assim se consiga um dia uma sociedade mais desenvolvida, mais humanizada e consciente que existem mais coisas na vida além do consumismo e individualismo.

Claro que concordo que a Casa da Cultura não têm as condições óptimas para qualquer tipo de espectáculo, mas posso-lhe garantir que estes concertos das “Sessões Off”, têm funcionado muito bem, e escrevo com conhecimento de causa.

Anónimo disse...

"...capacidade e talento para ter a coragem de sonhar alto, num País apaixonado pela mediocridade!"... Esta frase foi retirada de um post cujo titulo é Estoril Open de um blog denominado Viagra e Prosac. A profunda alteração de mentalidades relativa a vários aspectos do comportamento civico e humano é indissociável das conquistas politicas, sociais e culturais de ABRIL, certamente não foram destruidas pelos obreiros dessa revolução.Ou terão sido?

Mazdak disse...

Certamente, que não.

A profunda alteração de mentalidades não é um processo fechado que se possa cingir a um intervalo de tempo perfeitamente balizado, mas sim, um processo em plena mutação quotidiana devido à velocidade e intensidade com que vivemos hoje, por isso, a vanguarda das mentalidades está intrinsecamente ligada à conjuntura actual...

H disse...

@mazdak - confio pouco na chamada "auto-educação" cultural! Há trinta que se gasta dinheiro com base nesse primado, sem resultados visíveis! (e, para evitar mal entendidos, refiro-me ao nível autárquico e governamental!)
Sou o primeiro a defender que nas Escolas deveria existir uma educação para a cultura! Como contrapartida dos subsídios!
Se olharmos a realidade, vocacionar a cultura para as elites, tem tido como resultado um incremento do analfabetismo cultural!
Sobre a Casa da Cultura... o facto de não ser político permite-me defender que a mesma seja destruída (o edifício, não as valências) sem temer a demagogia fácil!

Sobre a anónimo que me cita... confesso que não tive alcance para compreender a frase...

anademar disse...

A vida não está fácil. São mais que muitas as angústias diárias, as preocupações comezinhas quotidianas. Como consequência óbvia das das políticas culturais vergonhosas que têm vindo a ser postas em prática, onde o que se destina à cultura é aquilo que sobra, as actividades culturais (refiro-me à totalidade das disciplinas), são relegadas para o plano do hobby, do luxo, do "quando não tiver mais nada que fazer". Porque ainda não se entendeu que as artes não são um luxo, ainda não se percebeu que as artes contribuem significativamente para o desenvolvimento de um país e dos cidadãos. Continuamos a crer que um povo ignorante é um povo feliz, e defendemo-lo com unhas e dentes.
Acho que a actividade cultural da cidade não é má, já vivi noutras cidades, maiores e por isso com mais obrigação de ter uma actividade a esse nível mais viva, e isso não acontece (p.e. Évora).
É sempre triste deslocar-me ao Pax ou à CC e ver ½ dúzia de teimosos, sempre os mesmos. Pior, passar meses a trabalhar e dar com uma salita pouco mais de meia…
Acho que há alguns problemas de divulgação, sem dúvida, que não me parecem de difícil resolução, se houver vontade para isso, nem sequer penso que seja essa a causa. Penso que é falta de educação. O gosto pela arte não nasce espontaneamente, é algo que se aprende, que se apreende, que se educa. Se não houver um esforço governamental, autárquico para meter a arte pelos olhos adentro das pessoas, se não se ensinar a ver e a apreciar nada acontece. Não se pode esperar que alguém que nunca viu um concerto, ou uma exposição ou um espectáculo de dança se dirija a um por uma vontade incontrolável vinda não se sabe de onde depois de ver o cartaz!
Por isso penso que a forma de encher as salas sem utilizar vedetas da televisão, passa por uma mudança radical no ensino oficial.
Em relação à casa da cultura, é de facto um espaço que não é carne nem peixe. E deixa muito a desejar em relação às condições que apresenta para um espectáculo de teatro (pois que é do que sei, é do que falo), mas para exposições penso que cumpre. Preocupa-me por outro lado a degradação que a desgraçada tem vindo a sofrer. E se se fazem umas obras de recuperação à coisa, porque não umas alteraçõezitas que façam da CC a sala que falta em Beja (o Pax tem duas: uma com uma lotação de 600 lugares outra com 60)?

baja disse...

eu cheguei à real e rude conclusão, que as pessoas não vão aos eventos culturais pq n querem!!

quando lhes interessa vão à procura!

não se trata de divulgação...
porque senão o grupo efectivo que assiste também não iria...

temos um povo muito mal habituado...

é conforme sopra o vento...

há tantos e bons espectaculos com salas minimamente preenchidas, porque o elenco não possui um nome conceituado...

bem eu podia falar tanto sobre isto,acreditem que sim, mas precisaria de muitas páginas...

mas garantidamente falam de boca cheia...culturalmente ( porque estamos a falar de cultura) somos uma cidade até bem desenvolvida e com preços ao alcance de todos!!

não aproveitem não, porque quando não houver nada, não há-de haver prozacs q resistam para combater as depressões da inexistência de vida cultural...

...e tudo por culpa do comodismo...

tenho dito...


amigo masdak
não conseguindo contrariar a afluência aos referidos espectáculo, só nos resta afirmar:

"SEMOS POUCOS MAS BONS"

Mazdak disse...

Sr. H
“Sou o primeiro a defender que nas Escolas deveria existir uma educação para a cultura! Como contrapartida dos subsídios!”

Se você é o 1º, eu sou o 2º, agora acho que esse processo tem de ser faseado, sendo a 1ª etapa o incremento da tal educação cultural nas escolas, de modo a ganhar publico suficiente para que numa 2ª fase, quando as estruturas produtoras dos espectáculos forem autoportantes ao nível financeiro ou quase, seja feito um desmame subsidial, porque as duas situações em simultâneo seria como que passar um atestado de óbito à nossa cultura.


Sra. Moi-te e Sra. Bajas
Subscrevo-as praticamente na integra

A todos
Fico lisonjeado pelo vosso interesse demonstrado e pela visita...